quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O corte do cordão umbilical

A dificuldade em cortar o cordão umbilical; em largar a barra da saia da mamãe e quem é que nunca sentiu antes esse medinho?
Já disse em algum outro post sobre essa minha dificuldade por inúmeros motivos, o principal deles se deu com certeza devido a separação dos meus pais, que ocorreu de forma super precoce o que me fez conviver os meus 24 anos de existência com esse fato.
Acho que de alguma forma, por ser criança e tudo mais, eu cresci com aquele sentimento de proteção pela minha mãe, sempre a achei a parte mais fraca de tudo isso, sempre senti que precisava cuidar dela e jamais deixá-la.
A família dela é um pouco cada um para um lado, eu não convivi nada com a minha vó materna, nem a minha mãe, por questões familiares, era um irmão para cada lado, tios, primos, idem, então eu acho que coloquei na minha cabeça que a minha mãe era sozinha, que ela precisaria de mim a vida inteira.
Depois que ela se casou com o pai da Ingrid, era pra isso ter melhorado, mas devido as condições dessa relação, a minha necessidade de protegê-la só aumentou; era uma relação conturbada, vira e mexe saíamos de casa, até que anos depois se deu a separação, e mais uma vez, me vi tendo que protegê-la.
Certo ou errado, eu não sei. Lembro bem das palavras do meu pai que muitas vezes me questionou por isso, questionou inclusive meus sentimentos quanto a ele, pois de alguma forma ele quis e podia me dar uma vida diferente da que eu tive e ele costumava dizer que aquele que ele oferecia era o caminho mais rápido ao sucesso e assim, eu poderia ajudar a minha mãe no futuro.
É difícil fazer com quem uma menina aos 14, 15 anos entenda esse tipo de raciocínio e isso me fez sofrer durante anos e mais anos. Eu sempre tinha que optar por algo, ou por alguém e nem sempre fiz as escolhas mais adequadas para o momento, escolhi de acordo com os meus sentimentos, com as conveniências normais da idade e sempre fui muito questionada e julgada por isso.
Hoje, passados praticamente 8, 9 anos de que me permiti viver um tempo com o meu pai, muita coisa aconteceu ou deixou de acontecer; deixei de me formar no tempo certo, deixei de aproveitar que alguém pagava os meus estudos, deixei de estruturar a minha vida e pra fechar com chave de ouro, trouxe uma responsabilidade ao mundo, sem ter como arcar com ela de início.
E com tudo isso, meu sentimento de proteção pela minha mãe ainda existe e muito. Posso notar o quanto isso me atrapalhou de alguma forma quando mais nova e hoje mais velha, pois acho que ela ainda não se tocou que sou MÃE e ela AVÓ, que apesar de estar sob seu teto e condições tenho as minhas escolhas e sempre que tento algum tipo de CONVERSA, tenho que ouvir de maneira agressiva que eu posso viver as minhas escolhas sem contar com ela, da porta para fora e por aí vai.
Bem, eu compreendo e entendo toda a postura de um pai e uma mãe diante de tudo o que ocasionei, todo o trabalho que não dei na adolescência, dei quando mais velha, do tipo, cagar e andar para o meu futuro e ainda arranjar uma gravidez surprise, um relacionamento conturbado, mas aí é que entram os meus questionamentos.
Eu estou tendo muito apoio e agradeço por isso, pode ser que eu não agradeça da forma como ela gostaria, mas em meu coração tenho uma gratidão absurda por eles terem abraçado a causa junto comigo, mas cada vez mais eu sinto a necessidade de romper de alguma forma esse cordãozinho para crescimento próprio meu e isso não se refere só a Sofia, ao pai dela, pois muitas das vezes ela acha que o meu foco é SÓ esse e não é.
A Ingrid está crescendo, não sei como será a relação dela com a minha mãe em termos de cuidado, realmente não posso fazer idéia! Mas eu tenho os meus planos, os meus sonhos, os meus objetivos e fico pensando como farei para realizá-los e ainda assim, cortar um pouco desse vínculo, pois durante anos da minha vida, mesmo sem entendimento pela idade e pela falta de maturidade, eu vivi a vida da minha mãe, sofri por ela, com ela, tentei várias vezes suprir suas necessidades e no final das contas, agora chegou a minha vez.
A questão toda é que bater no peito sem ter garantia é complicado e sinceramente, gostaria que as coisas se acertassem, pois a minha maior vontade é ver minha mãe bem, encontrando um companheiro bacana, que possa estar ao lado dela, que seja bom para a minha irmã, para mim, quero ver minha mãe vivendo, sorrindo, alegre, vivendo a plenitude de uma idade madura, mas eu quero também viver a minha vida, os meus momentos, ter as minhas alegrias e conseguir entender que esse é o MEU momento.


Um comentário:

  1. noooooosa querida..estou no mesmmo momento que vc...encontrei nas suas palavras o meu desabafo..tbm tenho filhos..e moro com minha mãe..mas PRECISO cortar os laços..preciso de minha IDENTIDADE.sinto como se não tivesse opinião.como se tenho q me curvar á td porque é o minimo que posso fazzer...rs..ai..ai..é complicado..!mas..espero sinceramente que nós duas consigamos..

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