Já contei aqui anteriormente que sou filha de pais separados; são separados desde o meu nascimento, ou seja, há 24 anos. Eu juro que não sei se teria sido mais ou menos feliz, se eles fossem casados até hoje, mas sei que eu teria tido menos problemas familiares e um pouco menos de culpa dentro de mim.
É, não é uma culpa que me consome, mas acho que é uma culpa que me trava um pouco e me faz ficar sempre com um pé, uma perna antes de tomar qualquer decisão na vida e isso desde cedo.
Sempre achei que a minha mãe era a parte menos favorecida nisso tudo, desde pequena, lembro que eu tinha esse pensamento. Não sei se eu sentia peninha, aquela dózinha, éramos eu e ela, enfim, não sei de verdade, mas eu cresci com essa dózinha dentro de mim, essa necessidade e vontade de cuidar dela, de que nada de mal a acontecesse e isso me atrapalhou e atrapalha hoje em algumas coisas.
Depois que a gente cresce um pouco mais, toma certa noção de tudo o que nos rodeia, é que eu pude perceber que minha mãe fez escolhas na vida e as consequências sofridas não foram nada anormais, uma vez que se trataram de consequências de escolhas vividas e que eu nada tinha a ver com elas, no sentido de poder opinar nelas.
Durante esses 24 anos de existência, eu fui muito apoiada pelos os meus avós paternos, sempre tive esse respaldo deles, meus pais se casaram novos, na época em que eu nasci, minha mãe tinha exatamente 24 anos e meu pai 26. Frequentava a casa do meu pai já com a minha madastra desde pequenininha, pude algumas vezes presenciar quebra pau entre os dois, presenciei situações diversas e engraçado, que algumas são nítidas até hoje em minha memória.
Lembro das festas de final de ano, era cada um de um lado, das minhas festinhas na escola, idem, dos meus 15 anos, o quanto fiquei satisfeita em tirar uma foto ao lado dos dois, lembro que ambos de alguma forma me manipulavam, acredito até que de maneira inconsciente, mas lembro de uma vez em que eu devia ter uns 9 anos e minha mãe pediu para eu perguntar ao meu pai porquê ele não voltava para casa. Lembro também das vezes que meu pai falou da minha mãe e seus olhos de alguma forma brilharam e ele sempre tentando esconder através de críticas.
Eu cresci assim, através do lado puro de ser criança, eu justificava tudo isso dizendo que eu tinha três casas, a da minha mãe, dos meus avós e a do meu pai, enquanto que na realidade, acho que eu gostaria mesmo ter tido uma casa só. Cresci com poucas fotos ao lado dos dois, poucos passeios na presença dos dois, mas cresci muito amada e não me sinto traumatizada pela separação deles, a presença dos meus avós foi fundamental.
Hoje, o tempo passou, minha mãe nesses 24 anos, namorou, casou, a Ingrid nasceu, separou. Meu pai desde a separação já estava com a minha madastra, cresci ao lado dela, hoje minha irmã tem 10 anos e nada muito diferente do que era. Mas eu posso perceber nitidamente os resultados da tal culpa a qual me referi lá no início do post.
Eu sempre tentei proteger a minha mãe, não sei porquê cargas d'água eu a achava frágil, achava que eu como filha deveria cuidar dela, das suas necessidades e por muitas vezes as assumi para mim. Depois que a Ingrid nasceu, me tornei a MAIS velha e parece que essa culpa redobrou!
Agora eu vou ser mãe, vira e mexe penso que não cresci ainda para tal, mas vou acreditar nas minhas amigas blogueiras que sempre dizem que quando nasce um filho, nasce junto uma mãe, espero. Me pego às vezes presa a determinadas escolhas da minha mãe e por diversas vezes sinto que devo protegê-la ainda do mesmo modo.
Mas acho que chegou a minha vez de ser mãe, de crescer e dentro de mim fazer o possível para que a Sofia não tenha esse tipo de sentimento dentro dela. Das poucas vezes que o Vitor é assunto dentro de casa agora, ela diz que não quer conviver, que pau que nasce torto não endireita, que ela tem sabedoria, que não erra de jeito algum - pausa; e eu sou obrigada a ouvir tudo isso, sim, ela é minha mãe, mas eu respondi o seguinte: '' Você já viveu, chegou a minha vez de viver, com as minhas escolhas, erros e acertos. ''
E essa culpa me faz muitas das vezes abrir mão do que eu penso, de como eu gostaria de conversar com ela, dizer o que eu sinto, como eu pretendo agir, os meus medos, as minhas inseguranças, por justamente querer diferente para a Sofia, mas conversar tem sido algo impossível.
Os meus tititis com ele nunca foram relacionados a maternidade, pelo contrário, sempre fui apoiada quanto a isso, ele desde o primeiro minuto amou ser pai. Será que fazer o tal do certo é largar tudo, jogar tudo para o alto e comprometer eternamente a vida de um ser humano? Ou lutar enquanto houver força, amor e vontade de construír uma família e mudar definitivamente o final dessa história?
Força já vi que Deus me concede a cada dia mais e mais, amor eu tenho, vontade também. Me resta deixar a culpa de lado e torcer todos os dias para que o amor, a paz e a união toquem os corações e que a Sofia venha em um ambiente de tranquilidade, que ela possa ter fotos ao lado do papai e da mamãe, que ela possa ter a casa dos avós para passear, que ela possa ter uma noção de estrutura de família, coisa que sinceramente, eu tive sim, mas de forma distorcida e conturbada.
Acho que além de nascer uma mãe junto, nasce uma responsabilidade ENORME de estar formando um ser, capaz de pensar, reproduzir, agir, amar, sonhar, com personalidade própria e essa responsa toda está nas minha mãos e na do pai dela, pois somos e seremos por uma eternidade os PAIS da Sofia.
Eu acho que a mãe nasce a partir do momento que ela toma conhecimento da existência do seu filho, mesmo que ele ainda seja do tamanho de uma ervilha. Você já é mãe. Só de pensar em todas essas coisas, se preocupar em como quer educar sua filha, já são indícios de que és mãe. Você já está cuidando da Sofia.
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